Copom mantém taxa Selic em 10,50% ao ano após sete cortes consecutivos, mesmo após falas de Lula

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Em uma decisão amplamente esperada pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central interrompeu o ciclo de cortes da taxa básica de juros, iniciado em agosto do ano passado, e manteve a Selic em 10,50% ao ano. A decisão unânime do comitê ocorre em meio ao impasse do governo Lula na condução da política fiscal e ao aumento das expectativas de inflação.

Mais do que o resultado, a grande expectativa dos agentes econômicos era sobre o placar da decisão, especialmente após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomar a ofensiva contra o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto. A unanimidade na votação trouxe alívio ao mercado, que temia uma nova divisão interna no Copom, como a ocorrida em maio. Naquela ocasião, cinco diretores herdados do governo Jair Bolsonaro votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual, enquanto os quatro indicados por Lula optaram por um corte maior, de 0,5 ponto. Esse racha gerou incertezas e contribuiu para a alta do dólar nas últimas semanas.

A expectativa sobre o placar da reunião aumentou após declarações de Lula nesta terça-feira, 19, em entrevista à CBN. Lula criticou Campos Neto, afirmando que ele não demonstra capacidade de autonomia, tem lado político e trabalha para prejudicar o país. Lula defendeu juros mais baixos para incentivar investimentos e comparou Campos Neto ao ex-juiz Sergio Moro, alegando que ambos têm compromissos políticos.

No comunicado da decisão, o Copom reiterou a necessidade de manter a política monetária em nível restritivo para consolidar o processo de desinflação e ancorar as expectativas de inflação. Segundo o comitê, "eventuais ajustes futuros" na taxa básica de juros serão ditados pelo "firme compromisso" de convergência da inflação à meta. O Copom destacou a necessidade de "serenidade e moderação" na condução da política monetária, diante de um cenário de desinflação mais lento e um ambiente global desafiador.

O comitê também mencionou que o cenário externo continua adverso, com incertezas sobre a velocidade da desinflação global e o início da flexibilização monetária nos Estados Unidos. "Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho", afirmou o Copom.

No balanço de riscos, o comitê apontou para a persistência das pressões inflacionárias globais e a resiliência da inflação de serviços como fatores de alta, enquanto a desaceleração da atividade econômica global e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global foram citados como riscos de baixa. "O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária", concluiu o comunicado.
 
Juros Reais

O Brasil mantém a segunda posição no ranking mundial de juros reais (descontada a inflação), com uma taxa de 6,79%, atrás apenas da Rússia (8,91%) e à frente do México (6,52%). A média das 40 economias pesquisadas pelo site MoneyYou é de 0,36%. O Banco Central estima que o juro neutro brasileiro, que não estimula nem contrai a economia, está em torno de 4,5%, mas economistas cogitam que já esteja próximo de 6%.

Projeções de Inflação

As projeções oficiais do Banco Central para a inflação voltaram a subir. Para 2024, a projeção do IPCA aumentou de 3,8% para 4,0%, e para 2025, de 3,3% para 3,4%. As estimativas para os preços administrados em 2024 caíram de 4,8% para 4,4%, enquanto para 2025, mantiveram-se em 4,0%. Essas projeções consideram um cenário de estabilidade no preço do petróleo e a bandeira tarifária verde para energia.

No mercado, as expectativas de inflação do Boletim Focus também subiram, com a previsão para 2024 passando de 3,72% para 3,96% e para 2025, de 3,64% para 3,80%. Ambas estão acima da meta contínua de 3,00% que deve ser oficializada pelo governo na próxima semana.

O próximo encontro do Copom está previsto para os dias 30 e 31 de julho.