Vendas e outros Comércios
Jair Vivan Jr.
O consumismo evoluindo, crescendo em todo planeta, aqui não era diferente, mas ainda tínhamos a vantagem de poder comprar na caderneta.
As compras para a minha casa eram feitas no Tone, na Rua Paraná, ainda na esquina, com sua enorme prateleira de latarias, vidros de conservas, bebidas e produtos diversos vendidos em embalagens, que eram retirados do alto por uma vara com garras, manipuladas por uma cordinha que descia ao alcance das mãos.
Arroz, feijão, açúcar, farinha de trigo, de milho, de mandioca e outros que eram vendidos à granel, ficavam nas caixas de madeira com divisórias e eram pesados na hora, conforme o freguês solicitasse.
E o cheiro de pó de café então? Moído na hora, Santo Antônio ou Ouribom, duas máquinas, depois de extraída a quantidade, desejada, 250 ou 500 grs., eram socados na embalagem de papel impermeável, em uma caixinha de madeira, batendo fortemente no balcão, assim ficavam quadradinhas e por fim lacradas por uma etiqueta gomada, personalizada.
Na frente de um dos balcões ficavam os rolos de fumo de corda de variados calibres, que também exalava seu forte cheiro característico.
O Japonês dono, ficava sempre à postos no balcão para fechar as contas com o seu inseparável soroban que sabia manipular com admirável agilidade.
Lá, tinha de tudo, mas se faltasse alguma coisa era só descer a rua à direita de quem estava olhando para o Bazar do Jorge, e no meio do quarteirão do lado esquerdo tinha o Armazém Santo Antônio, dos irmãos Vieira, lá não tínhamos conta mas dava para marcar, como uma exceção por sermos vizinhos de um dos donos.
De lá me lembro bem do depósito ao qual tive acesso algumas vezes com meu amigo filho do dono e até hoje minha boca enche de água quando me vem à lembrança, as latas de biscoitos vendidos à granel, tinha: Duchem, Piraquê, São Luiz e outros o meu preferido era um recheado de chocolate e em uma das visitas comi tanto que cheguei a ter dor de barriga.
Era marcante neste estabelecimento, os grandes carreteis de corda de sisal em diversas espessuras, vendidas à metro que ficavam expostos na reta da porta.
Seguindo a rua na esquina do mesmo lado, tinha a quitanda da dona Maria com seus enormes baleiros sempre cheios de balas Chita, tinham outras, mas elas se destacavam.
Eu sempre voltava dali, era região de comércio intenso e me lembro que do mesmo seguimento, mais lá em baixo tinha o Empório Jardim e demais quitandas, açougues etc.
Mas voltando de frente para o bazar, agora descendo à esquerda passando pela entrada da casa do Mineiro, funcionário que morava nos fundos do Tone, pela Vigorelli e a frente do corredor dos Neder, tinha a Casa de Quadros, a Casa de Esportes São Luís e logo chegava à quitanda da dona Tereza, nesta sim tínhamos conta e cheguei a ter problemas por ter comprado tanto amendoim japonês sem a devida autorização, dando ruim para mim quando meu pai foi acertar a conta.
Ali, era um costume maldoso da molecada abrir as torneiras de madeira dos barris de shoyu, que escorriam pela calçada até que conseguissem largar o atendimento para correr e fecha-las. Descendo mais tinha a Casa Santos, onde meu pai trabalhou até comprar o bar em frente ao Tone, depois vinha o atacadista São Marcos a Casa de Armarinhos e na esquina o Bar do Português, que sobreviveu até pouco tempo. Em frente pela Cardoso era a Casa Costa que pegou fogo e fomos todos assistir as labaredas, mantendo a devida distância.
Em frente, na Paraná ficava a Gráfica e Papelaria Azevedo sortida e com destaque em artigos para carnaval tinha lança perfume ainda com venda permitida, expostas em bancas na frente da loja.
Voltando pela mesma calçada era a quitanda dos Miwa, cuja família morava nos fundos e vivia cheia de jovens na longa varanda, por darem aulas particulares, Casa Sanches com linhas e aviamentos, a Casa Vita de materiais elétricos e hidráulicos com sua maravilhosa vitrine que mostrava um sistema com uma mangueira transparente em que a água retornava repetidamente sem nem uma conexão em canos, novidade maravilhosa para a época, ficávamos olhando por longo tempo, aí já estava no bazar, descolava umas bombinhas, o Jorge era meu tio, passava no bar, se meu pai estivesse de boa rolava uma caçulinha com a tampa furada à prego, pois ainda não tínhamos acesso aos canudinhos.
Assim eu descia a Souza Soutelo mascando um chiclete de bola que tinha garantido no fiado da dona Tereza.
O comércio era assim diversificado, cada um focado no seu ramo nas diversas lojas, vendas e bares espalhados pela cidade, não existiam ainda os supermercados com auto serviço, até a Casa Zanotto na Praça Mello Peixoto inovar com o primeiro Peg Pag da cidade.
O Tone também se modernizou e virou uma rede de Supermercados por longo tempo, encerrando suas atividades posteriormente, meu pai vendeu o bar e voltou para a Casa Santos que focou em tintas, vendendo a parte de Caça e Pesca para a Pescaça, inclusive com a coleção de armas antigas do meu tio Paulino, que eram mantidas expostas na vitrine da loja, construída na frente do corredor dos Neder.
Até dentro do próprio segmento havia foco, por exemplo a Gráfica Azevedo cuidava das impressões, fantasias e demais artigos para carnaval, a livraria Thomé, livros, revistas em geral e material escolar, lá também era ponto de troca de figurinhas e me lembro de muita "cata deixa" que é quando um metia a mão no bolo de figurinha do outro, que estavam sendo exibidas para troca espalhando tudo pelo chão e a molecada se empinhocava com a finalidade de adquiri-las e sair correndo.
A preferida para a compra do material escolar era a Mori & Milani, além do sortimento de produtos para a escolha, tinham uma farta coleção de decalcomania (adesivo aplicável à água em papéis) para nossa escolha. Além das cortesias de mata borrões e horários (cartões para agendar aulas em seus respectivos dias).
Nesta iniciação os momentos mais esperados eram: deixar a cartilha e começar o livro, deixar o lápis, ir para a caneta à tinta e ter seu próprio tinteiro, abrir seu vidro de goma arábica, pois pela primeira vez poderíamos usar uma cola tão poderosa com permissão, mesmo porque até então só conhecíamos cola de farinha e também deixar aquele compasso com ponta de prego e ganhar um muito pontiagudo com capa que..., rs. deixe pra lá.
Foto: Arquivo Pessoal
Em qualquer canto da cidade tinha uma venda para tomarmos uma caçulinha de preferência furada na tampa, afinal copo era para os fracos e bar para os mais velhos, me lembro com saudades de ter passado pelas mercearias do Vitório, do Toloto, do Tanaka, Casa Carlos, Quitanda Maringá (até hoje) e outras por aí. Com os avanços, os seguimentos foram sendo agrupados em lojas departamentais causando fechamentos de alguns pontos, dentre outros ainda em funcionamento.
Levando em conta minhas falhas de memória e alguns enganos na ordem descrita, muita coisa já mudou na Rua Paraná, antes mesclada com residências e hoje com predominância no comércio.
E com o recente fechamento do Empório Paulista que ficava nas proximidades a melhor opção é recorrer aos grandes supermercados para abastecer nossa despensa.