A comunicação era precária, mas também não fazia tanta falta, vivíamos muito no presencial, tempos bons de intensa e saudável aproximação social.
Telefones eram para as reais necessidades, custavam muito caro, poucos o possuíam e contávamos com sua boa vontade para anotar recados urgentes ou permitir o uso para ligar, normalmente quando em extrema necessidade, era chique ter um vizinho com telefone, imagine ter um então.
Um telefone clássico. Poucos o tinham. (Imagem ilustrativa)
A telefonia local era tacanha devido a baixa demanda e o serviço interurbano era executado pela Companhia Telefônica Brasileira.
O primeiro plano de expansão telefônica que teve por aqui era um sistema de ramais, a telefonista atendia e transferia para o ramal solicitado, tudo na conversa, telefonistas tinham fama de saber de tudo, ou pelo menos de quem ligou para quem. (rs. folclore?)
No paralelo tinha um ou outro rádio amador particular, também usado para as comunicações de muita urgência a distância e os comentários eram que apoiavam muito bem as transações de contrabando.
Mas também era habitual a comunicação por cartas via correios, para bate papos e troca de informações não muito urgentes, para as mais importantes tinham as postagens registradas, expressas e as por via aérea, com envios e repostas, tudo na escrita.
Em um período que fui morar em outra cidade, me comunicava com os amigos que aqui deixei por cartas e a conversa chegava a levar meses para se completar entre envios e respostas.
Para uma comunicação mais rápida recorríamos aos telegramas, muito usados para felicitações, notícias de óbitos, etc., enfim chegava no mesmo dia, fazíamos o texto que era transmitido por "código morse" e entregue no endereço, traduzido e transcrito, um serviço dos Correios e Telégrafos.
Quase ninguém mais se comunica através de cartas (Foto: Reprodução)
A comunicação cotidiana era de porta em porta, um amigo passava na casa do outro para marcar o próximo encontro, anunciávamos nossa presença através de assovios personalizados.
Aparelho de telegrama (Foto: Reprodução)
Na escola recorríamos aos bilhetinhos e recados. Quando criança atuei como aviãozinho das internas no Colégio Santo Antônio, que jogavam pela janela os recados em papéis dobradinhos, e nós pegávamos disfarçando das freiras e direcionávamos aos rapazes destinados.
Nas quermesses era o correio elegante para os recadinhos dos conquistadores a princípio anônimos e que normalmente levava a noite toda para ser revelado. O pior era quando depois de tudo, não dava em nada, mas também já vi até dar em casamento.
Nos postos telefônicos com cabines, após a solicitação aguardávamos, às vezes, por longo tempo até a ligação interurbana ser completada, era comum desistir devido à demora, eu mesmo desisti várias vezes por ter ficado tarde para falar com minha mãe.
Os orelhões (telefones públicos) foram por longo tempo a forma mais popular para se comunicar, às vezes marcados por longas filas para utilizá-lo, a princípio só funcionavam com fichas, as quais tinham como ser reutilizadas quando amarrada por uma linha e com uma “sacudidinha” ao completar a ligação, era devolvida pela boqueta do aparelho, depois foi implantado o cartão telefônico e acabou a mamata.
Os "orelhões" existem até hoje, mas com o facilidade de se ter um celular são pouco utilizados (Foto: Reprodução)
Registros fotográficos de bailes e eventos só eram conhecidos quando o fotógrafo que fazia a cobertura expunha em suas vitrines as fotos numeradas à caneta para serem encomendadas.
Longe de imaginar que um dia teríamos tudo isto resumido em um telefone de bolso, que além de substituir a máquina de escrever, grava, filma, tira fotos, acessa a internet e faz envios imediatos através de comunicação on line, permite conversas com imagem em tempo real e indica nossa localização via satélite.
Muito diferente do nosso ainda recente antigamente de cinquenta anos atrás em que nas raras vezes que conseguíamos passar os inocentes trotes telefônicos como: "Quem envernizou a asa da barata?"; "Quem cortou a perna do saci?"; "Tem um fusca gelo aí em frente? Não? Então derreteu" e etc..., jamais seríamos localizados devido a remota tecnologia da comunicação na época, que começava a engatinhar.
Então, vemos que tudo é proporcional não havia tanto recurso, mas também não tinha tanta maldade.
(Reveja outras crônicas - Clique na foto acima)