João Neto: Barquinho de papel

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O Dia das Crianças está aí, mas os tempos mudaram, as crianças também. Numa relação auto comparativa dá para dizer que o mundo ficou "bicudo" e as crianças perderam seus espaços para crescer.

É verdade que nós, crianças pobres, meninas e meninos, não podíamos ter brinquedos caros: Autorama, Forte Apache, Banco Imobiliário, bonecas Barbie e Suzi, enfim, os únicos brinquedos comprados em loja que a gente tinha era uma bola de plástico mequetrefe "Dente de Leite" ou um pega-varetas.

A saída, única, foi aprender construir nosso próprio brinquedo: estilingue com borracha de pneu, pipa com folha de jornal, covas para jogar bolinha de gude, cavalinho de pau, carrinho de rolimã, etc...

Carrinho de rolimã com quatro meninos (Foto: Reprodução)

Até o dia em que aprendemos, numa aula de artes, fazer brinquedos com dobraduras de folha de caderno: barquinho de papel era nossa alegria de navegação, aviãozinho de papel era nosso sonho de Ícaro.

Um mundo real e fictício ao mesmo tempo:

"Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo, e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo..." Lembram?

Amarelinha, riscada com pedra na rua (Foto: Reprodução) 

Época boa que, só quem viveu saberá descrever a sensação de confeccionar uns barquinhos de papel e colocá-los apostar corrida enxurrada abaixo e, na própria enxurrada, se lambuzar na água suja, era nossa piscina possível.

Claro que rolava umas chineladas, quando as mães percebiam que entrávamos em casa todos imundos!

A noite a gente pulava corda e brincávamos de pique-esconde... As meninas chegavam ao "céu" pulando amarelinha.

Assim vivemos nossa infância, com alguns limites é claro, porém, de intensa alegria. Ainda tínhamos tempo para ajudar nas tarefas de casa.

Hoje, que pena, as crianças não são mais autogerenciáveis, as ruas não são mais imensas Disneylândia... As ruas estão perigosas e cruéis... As crianças de agora, ou estão ociosas na frente da tv ou estão com os olhos pregados na tela do celular... Nunca saberão o significado da frase "ser feliz"!

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