No tempo em que eu "cortava luz", às vezes me via diante de verdadeiras tragédias sociais e dramas familiares, enfim, situações que nos doía a alma.
Naquela semana de Natal, durante a execução dos “cortes” do dia, chego numa casinha de meia-água, humilde, muro baixo, gradil vermelho, portão quebrado e um cachorro magro deitado na varandinha da frente.
Bato as palmas de praxe e ninguém me atende... Ao baixar o disjuntor percebo que a tv, em volume alto, emudece... Simultaneamente abrem-se as ventarolas do vitrô da sala e pelas frestas observo três pares de olhinhos brilhantes.
Pela porta da sala saem três crianças, a maiorzinha, uma menina de uns dez anos, é seguida pelos irmãos menores.
- Você desligou nossa luz, moço? Perguntou a menina, e emendou:
- A gente estava assistindo desenho!
E seguiu questionando:
- Vamos ter que tomar banho na água fria?
Lembra do respeito ao consumidor? Então... Aí quem iniciou os questionamentos fui eu:
- Onde está seu pai ou sua mãe?
- Estão cortando cana pra comprar nossos presentes de Natal! Ponderou e continuou:
- Hoje é sexta-feira, dia do pagamento da semana... Você não vai deixar a gente passar o Natal sem luz, né moço?
Enquanto eu conversava com a menina, os irmãos observavam calados, com as mãozinhas sujas, segurando pedaços de pão seco... Ato contínuo, religuei o disjuntor e lacrei a caixa de medição, retornando a energia.
- Agora vocês voltem pra dentro assistir a televisão, depois venho conversar com seus pais.
Ganhei de volta um:
- "Brigado, moço"!
Procuro fazer meu trabalho obedecendo às normas da empresa, porém, minha alma, ainda bem, não perdeu a ternura.
Tenho consciência que não conseguirei resolver os dramas do mundo, mas, se eu insistisse naquele “corte”, penso que estaria aumentando minha coleção de fracassos!
Voltei pra base e contei ao gerente (outra alma bendita) que, imprimiu as contas em atraso e me ajudou na quitação dos débitos (que não era tanto dinheiro assim!).
Pela primeira vez em dez anos não fui ao Correio pegar uma cartinha do “Papai Noel”, os presentes do ano e a Cesta de Natal decidi levar para as crianças dos olhinhos brilhantes que, por ora, queriam apenas assistir desenho animado e tomar banho quente.
Então, é Natal... Muita luz pra vocês também!
Naquela semana de Natal, durante a execução dos “cortes” do dia, chego numa casinha de meia-água, humilde, muro baixo, gradil vermelho, portão quebrado e um cachorro magro deitado na varandinha da frente.
Bato as palmas de praxe e ninguém me atende... Ao baixar o disjuntor percebo que a tv, em volume alto, emudece... Simultaneamente abrem-se as ventarolas do vitrô da sala e pelas frestas observo três pares de olhinhos brilhantes.
Pela porta da sala saem três crianças, a maiorzinha, uma menina de uns dez anos, é seguida pelos irmãos menores.
- Você desligou nossa luz, moço? Perguntou a menina, e emendou:
- A gente estava assistindo desenho!
E seguiu questionando:
- Vamos ter que tomar banho na água fria?
Lembra do respeito ao consumidor? Então... Aí quem iniciou os questionamentos fui eu:
- Onde está seu pai ou sua mãe?
- Estão cortando cana pra comprar nossos presentes de Natal! Ponderou e continuou:
- Hoje é sexta-feira, dia do pagamento da semana... Você não vai deixar a gente passar o Natal sem luz, né moço?
Enquanto eu conversava com a menina, os irmãos observavam calados, com as mãozinhas sujas, segurando pedaços de pão seco... Ato contínuo, religuei o disjuntor e lacrei a caixa de medição, retornando a energia.
- Agora vocês voltem pra dentro assistir a televisão, depois venho conversar com seus pais.
Ganhei de volta um:
- "Brigado, moço"!
Procuro fazer meu trabalho obedecendo às normas da empresa, porém, minha alma, ainda bem, não perdeu a ternura.
Tenho consciência que não conseguirei resolver os dramas do mundo, mas, se eu insistisse naquele “corte”, penso que estaria aumentando minha coleção de fracassos!
Voltei pra base e contei ao gerente (outra alma bendita) que, imprimiu as contas em atraso e me ajudou na quitação dos débitos (que não era tanto dinheiro assim!).
Pela primeira vez em dez anos não fui ao Correio pegar uma cartinha do “Papai Noel”, os presentes do ano e a Cesta de Natal decidi levar para as crianças dos olhinhos brilhantes que, por ora, queriam apenas assistir desenho animado e tomar banho quente.
Então, é Natal... Muita luz pra vocês também!