Se tem uma coisa que o ourinhense sabe fazer bem feito é presepada, festa, competições e eventos:
Fez o melhor time de basquete feminino do Brasil, fez o time mirim de beisebol se tornar campeão mundial, a FAPI está (estava) entre as maiores exposições agropecuárias do país, sem contar a participação no Cidade x Cidade onde, Pedrinho do Bazar e o Jairão, deram verdadeiro show.
Mas o evento ao qual vou me referir talvez seja o mais inusitado e curioso já acontecido, no início dos anos 80, na Vila Boa Esperança: "A Corrida dos Bêbados"!
Atrevo-me a chamar de "Corrida dos Beudos", pra reforçar o meu caipirês ortodoxo.
Afirmam que a ideia inicial foi do Pachola, porém, é uma informação que merece aprofundamentos. A verdade é que as tais Corridas dos Beudos realmente aconteceram.
Havia morador que patrocinava o evento, o Leide da serralheria bancava a bebida.
Ah, a cada esquina do percurso de 400 metros havia uma garrafa de pinga para abastecimento, um verdadeiro pit stop.
Cada Bar da Boa Esperança escolhia um bêbado para ser seu representante, oferecia uma camiseta com o patrocínio do bar, o Neguinho da Etiópia, por exemplo, era patrocinado pelo Bar do China, uma camiseta azul bem bonita.
Assim como havia espectadores de outros bairros também havia competidores forasteiros, o Zé Dia, por exemplo, representava o Bar do Celestino, que ficava na Barra Funda.
Na Pracinha da Passarela da Cardoso Ribeiro era montado um palco com MC - Mestre de Cerimônias... ele anunciava o nome dos competidores e o boteco que o patrocinava: Mirtão, João Bocudo, Nirdão, Dair, Neguinho da Etiópia, Lorão, Trupé e Maçarico, entre outros.
Aquele pedaço da cidade ficava apinhado de gente, era uma grande festa, um evento concorrido.
Havia troféus para os três primeiros colocados, dizem que o Mirtão só perdeu uma vez, isso por que o Lorão cortou caminho.
Rudney Soares e Reginaldo Pereira Góis, moradores ilustres da Boa Esperança, afirmam que tudo foi verdade, inclusive, contam que a Corrida dos Beudos teve umas 3 ou 4 edições, tendo sido proibida pelas autoridades judiciais, porque os competidores estavam se lesionando demais.
De todos os competidores citados apenas o Mirtão ainda é vivo, segue morando na Boa Esperança, andando de “déu” em “déu”.
Mirtão ainda é vivo, segue morando na Boa Esperança (Foto:Reginaldo Pereira Góis)
Rudney, filho do China do bar, conta também que, numa madrugada de domingo pra segunda o competidor, Neguinho da Etiópia, bateu na porta de seu pai com o troféu de terceiro colocado na mão, ofereceu o troféu em troca de alguns trocados, China lhe deu algum dinheiro, mas não quis o troféu, Neguinho virou as costas e, sorridente, subiu a Cardoso Ribeiro, cambaleante, desaparecendo na escuridão!
Deve ter ido terminar a noite no Bar Marabá, perto da Estação de Trem.
Colaboraram com o texto: Reginaldo Pereira Góis e Rudney Soares.