Meu irmão mais velho, morava em São Paulo, mas veio passar o final de ano em casa...Percebendo que as louças da minha mãe estavam em estado lastimável, a levou até a Loja Couraça, na Rua Paraná, e comprou um jogo de louças novinho para ela, tudo "Colorex"! O “bicho véio” tava com a grana.

Noooossa, pensa num ciúme que minha mãe tinha do seu jogo de pratos, só usava quando tinha visitas... Nós continuamos fazendo nossas refeições nos pratos feios, enfim, os novos "Colorex" nem pensar!

Loja Couraça, na Rua Paraná ao fundo (Foto: Marconi Dias)

No domingo, porém, quando tinha macarrão com molho de carne, com exagerada quantidade de cheiro verde e queijo ralado, era até mais gostoso almoçar nos Colorex.

Num domingo à tarde, porém, logo depois do almoço, todos nós com o pandu cheio, enquanto eu ajudava passando pano no chão da cozinha, sem querer bati o cabo do rodo na pilha de pratos que vieram abaixo, quebrando cinco pratos, daqueles chiques!

Pratos "Colorex" (Foto: Reprodução)

Saí correndo e me escondi lá no campo do seminário, até anoitecer... Claro que eu iria levar uma surra federal.

Quando estava anoitecendo meu irmão Arnaldo foi lá me chamar:

- A mamãe mandou você voltar já pra casa!

- Não vou, ela vai me bater!

- Ela disse que se você não for agora vai ser pior!

Rezei nem sei quantos "Pai Nosso" e "Aves Maria", sabia que a surra iria ser doída, mas decidi encarar.

Cheguei em casa ressabiado e assustado, mas não vi minha mãe no portão... Olhei pelas frestas da porta, minha mãe estava sentada no sofá fazendo crochê.

Por cima dos óculos ela me viu e disse:

-Vem, senta aqui do meu lado!

Ainda assustado fui chegando, procurando onde ela tinha escondido o fio de ferro... Quando sentei do lado dela, me abraçou e disse:

- Fica tranquilo, foi sem querer, você estava trabalhando, esses pratos não irão fazer falta!

Naquela noite fui dormir absolutamente em paz!

“Bença” mãe!

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