Do nosso tempo, por absoluta falta de recursos, tanto tecnológicos, quanto financeiros, não temos nenhuma imagem registrada em fotos.
Que pena, não temos retratos para dependurar na parede!
Não temos fotos da nossa casinha de tábua, na Água Suja, que mamãe decorava com samambaias, avencas e um jardim com inesquecíveis rosas vermelhas.
Imagem Ilustrativa (Foto: Reprodução)
Não temos fotos do nosso cachorro Duque, aleijado de uma pata dianteira, porém, de uma doçura e ligeireza ímpar... Nossa égua branca, carinhosamente chamada de "Neblina".
Essa não a "Neblina" (Foto: Arquivo Pessoal/João Neto)
Puxa, o chão de vermelhão, que mamãe deixava brilhando também não registramos.
Da bica d'água, onde mamãe enchia o pote de barro e lavava nossas roupas, o varal abarrotado, nada registramos.
A carrocinha verde, o pé de limão galego que todo nascimento de Cristo virava árvore de Natal, toda enfeitada com purungas pintadas à mão, não deu pra fotografar.
E da "casinha" onde fazíamos nossas necessidades fisiológicas, com medo daquilo afundar com a gente, medo de animais peçonhentos, além do cheiro insuportável.
Tudo, tudo sem imagem comprobatória.
Ainda bem que tudo está arquivado na parede da nossa memória, coisas que nem o tempo conseguiu apagar!
Mesmo sem retratos e fotografias tudo era mais fácil. Na minha casa havia minha mãe e meus irmãos, amor puro.
Na vida cotidiana aquela rainha de olhos azuis fazia tudo parecer extremamente simples.
No forno à lenha. No banho de canequinha. No poço no quintal. Nosso pé de laranja pera, de manga e jabuticaba.
Vocês precisavam ter conhecido nossa casa simples e minha mãe heroína.
A mobília era de madeira rústica, mas tinha amor de mãe e, quando se tem amor de mãe todos os problemas se diluem no correr da vida.
(Foto: Arquivo Pessoal/João Neto)
Confira também:
‘Churrasco e whisky à Vontade’
A Última Reunião em Volta do Forno
O retorno ao Caló, quase 50 anos depois
40 anos da partida de Ourinhos
Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos.
Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.
João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.