João Neto: Noites Envelhecidas

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No último domingo me ocorreu de percorrer a noite das ruas da minha juventude.

Assim, sem compromisso com agenda ou horário, calcei meu “sapatênis” surrado, estacionei meu carro na esquina da Matriz e, a pé, caminhei “despacito” pelos "points" dos meus anos dourados.

Caminhar solitário, quase meia noite, é um arriscado programa nos dias atuais...

Percebi a igreja fechada, os bancos da praça da matriz completamente vazios, sequer algum carrinho de pipocas para testemunhar minha visita.

Na esquina, onde era o Pedutti, algumas últimas almas se retiravam do shopping do lugar, apenas Gene Kelly, permaneceu ali, eternizado na cena clássica de "Cantando na Chuva".

Segui calmamente pela Antônio Carlos Mori, sentido rua Paraná que, hoje, é um aconchegante "calçadão".

Banda do Maestro Américo (Foto: Arquivo/ Reginaldo Pereira Góis)

As ruas todas apresentam moderna iluminação de led, completamente diferente das deficientes luzes republicanas do meu tempo.

Eis que me deparo com a minúscula porta de entrada do Clube dos Jovens Terríveis, sem nada nem ninguém, o lugar fervia nos finais de semana, hoje completamente silente, sem "B J Thomas", "Creedence" ou "Glória Gaynor"... Na fachada um convite: "Aproveite, todos os colchões com 50% de desconto".

A "Pão e Vinho" fechada, "A Mentirosa" agora é uma farmácia, o "Grêmio Recreativo", das "minas" elegantes e escamosas, virou uma loja de departamentos.

Desci até a praça Mello Peixoto, na ilusão de que eu chegaria no final da apresentação da Banda Municipal do Sr. Américo e seu carneirinho branco, inesquecível mascote...  Teria sido melhor nem ter chegado ali, hoje está povoada de estranhas sombras e estranhas vozes.

Praça Mello Peixoto, no centro de Ourinhos, antes da reforma (Foto: Arquivo/ Wilson Monteiro)

Voltei à matriz, já passava da meia noite, peguei meu carro, dei partida e fui embora, com a certeza que as minhas noites também envelheceram!

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