O vento frio da madrugada, que insistiu em assobiar noite adentro, tentou, tentou, mas não conseguiu vencer a batalha contra a moderníssima porta de blindex da minha sacada.
Eu reconheci esse inconveniente e atrevido vento, era o mesmo que, sem pedir licença, entrava em nosso quarto pelas frestas da nossa casa de madeira, nos tempos difíceis de nossa infância.
Sim, o mesmo vento frio e uivante, que transformava nosso humilde quartinho num verdadeiro freezer.
Sem contar que, na época, "rolava" no rádio e na TV, a propaganda das Casas Pernambucanas:
"Quem bate? É o frio!
Não adianta bater, eu não deixo você entrar..."
Este comercial parecia aumentar a sensação de frio... Tenho certeza que minha geração nunca esqueceu dessa propaganda oportunista (veja o vídeo abaixo).
Isso tudo explica minha insistência em dizer que antigamente fazia mais frio que nos tempos atuais, puro engano, além da casa de tábuas ser gelada a gente tinha poucas roupas de frio e pouca coberta.
Aí minha mãe entrava em ação e operava seus milagres: ela colocava folhas de jornal sobre nosso cobertorzinho corta febre e jogava um pano de chita por cima, Pronto ficava quentinho... O inconveniente era que não podíamos nem virar na cama, ia tudo pro chão.
Ao amanhecer, pelas mesmas frestas que assobiava o vento frio, entrava os primeiros raios de luz no nosso quartinho, os fachos clareavam e aqueciam o ambiente.
A claridade permitia que a gente pudesse ler as notícias do jornal que nos cobriu, mesmo com datas atrasadas era o tempo em que os periódicos eram confiáveis!
Tudo passa!