Naquele tempo, não somente na Vila Perino, mas em toda Ourinhos, semanalmente aparecia algum prestador de serviço, ou buzinando, apitando ou batendo de porta em porta. Era o homem do biju, o sorveteiro, o vendedor de quebra-queixo, o bucheiro, o verdureiro, enfim, um monte de gente tentando faturar seu dinheirinho.
O mais interessante, curioso e eficiente era o "amolador de tesouras"... Um senhorzinho magro, cabelos fartos e brancos, chapéu de palha surrado e um bicicleta irada.
Sua bicicleta Goricke (que a gente chamava de Gariche) era um verdadeiro veículo operacional, dotado de caixa de ferramentas e um esmeril de manivela.
Sua corneta de boca era o instrumento de anunciação, de longe dava para escutar sua chegada, além do seu slogan, que ele pronunciava cantando e repetindo:
- Amooooolo facas e tesouuuuuuras!
Rapidinho juntava nossas mães com suas tesouras, facas, alicatinhos de unhas e tudo que pudesse ser afiado.
Nós, molecada curiosa, ficávamos assistindo o trabalho daquele senhor, um ritual minucioso, um capricho de mínimos detalhes.
Ele manivelava o esmeril e sua pedra circular, em atrito com o aço das tesouras gerava fagulhas alaranjadas. Verdadeiro espetáculo pirotécnico.
A gente adorava assistir aquela maravilha, ele ficava umas duas horas por ali, recebia seus trocados, montava na Gariche, subia a Barão do Rio Branco tocando sua corneta enquanto cantarolava seu slogan, até desaparecer de nossa vista.
- Amooooolo facas e tesouuuuuuras!
Acho que não existe mais os "amoladores de tesoura", nunca mais vi, afinal as mães já estão no andar de cima e as filhas, por comodidade, dispensaram as máquinas de costura e, por consequência, as tesouras e outros utensílios.
É mais viável comprar roupas prontas.
E, parafraseando Fred Guiol: "assim caminha a humanidade".
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