João Neto: O Amolador de Tesouras

Compartilhe:

Naquele tempo, não somente na Vila Perino, mas em toda Ourinhos, semanalmente aparecia algum prestador de serviço, ou buzinando, apitando ou batendo de porta em porta. Era o homem do biju, o sorveteiro, o vendedor de quebra-queixo, o bucheiro, o verdureiro,  enfim, um monte de gente tentando faturar seu dinheirinho.

O mais interessante, curioso e eficiente era o "amolador de tesouras"... Um senhorzinho magro, cabelos fartos e brancos, chapéu de palha surrado e um bicicleta irada.

Sua bicicleta Goricke (que a gente chamava de Gariche) era um verdadeiro veículo operacional, dotado de caixa de ferramentas e um esmeril de manivela.

Sua corneta de boca era o instrumento de anunciação, de longe dava para escutar sua chegada, além do seu slogan, que ele pronunciava cantando e repetindo:

- Amooooolo facas e tesouuuuuuras!

Rapidinho juntava nossas mães com suas tesouras, facas, alicatinhos de unhas e tudo que pudesse ser afiado.

Nós, molecada curiosa, ficávamos assistindo o trabalho daquele senhor, um ritual minucioso, um capricho de mínimos detalhes.

Ele manivelava o esmeril e sua pedra circular, em atrito com o aço das tesouras gerava fagulhas alaranjadas. Verdadeiro espetáculo pirotécnico.

A gente adorava assistir aquela maravilha, ele ficava umas duas horas por ali, recebia seus trocados, montava na Gariche, subia a Barão do Rio Branco tocando sua corneta enquanto cantarolava seu slogan, até desaparecer de nossa vista.

- Amooooolo facas e tesouuuuuuras!

Acho que não existe mais os "amoladores de tesoura", nunca mais vi, afinal as mães já estão no andar de cima e as filhas, por comodidade, dispensaram as máquinas de costura e, por consequência, as tesouras e outros utensílios.

É mais viável comprar roupas prontas.

E, parafraseando Fred Guiol: "assim caminha a humanidade".

Confira outra história – clique aqui