Seu José, hoje, enquanto recebo mensagem, do site chinês, que a TV de 70 polegadas que comprei pelo aplicativo chegará dia 16, me lembrei de você... Me lembrei do dia em que você apareceu em casa, todo felizão, em outro dia de inverno, numa charrete de aluguel, trazendo uma TV “Telefunken”, branco e preto, valvulada. Comprada na “Casa Buri”.
Sua felicidade foi nossa felicidade, não mais precisaríamos assistir televisão no vizinho, muitas vezes recebendo porta na cara.
Legal que, dias depois, você apareceu com uma tela plástica colorida, para nossa tv nova parecer TV colorida.
Pai, eu queria tanto esperar você no portão novamente, não pra me trazer uma TV de 70, smart, 4k - mas pra falar da alegria que era ver você chegando em casa, você nos passava segurança.
Quem sabe para apenas segurar a sua mão. Falar das minhas coisas. Falar dos meus medos.
Pai – meu Deus - como aguardei sua presença nesses anos todos.
Sei que é impossível, mas ainda há dentro de mim a esperança de vê-lo chegar, na mesma charrete, com um sorriso no rosto, dizendo que tudo é um pesadelo e você estava vivo esperando a hora certa para me visitar.
Sem você perdi a referência - e que muito me custou, mesmo sabendo de sua baixa escolaridade, mas seu espírito era sábio.
Agora adulto fica sua lembrança motivadora, porém, um pouco de desconforto ao lembrar esse tempo tão especial ao seu lado.
Feliz Dia dos Pais, pai!
O sobrinho de João Neto, Reinaldo Cruz (Foto: Arquivo Pesssoal)
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Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos.
Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.
João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.