Então... Naquela semana do Dia das Mães, eu não havia ganhado nada engraxando sapatos, eu não sei se meu pai teria dinheiro para me dar, aliás, eu sabia das dificuldades e estava naquela fase de sentir vergonha de pedir dinheiro pra ele, eu me cobrava a obrigação de ganhar meu próprio dinheiro.
E lá fui eu, bem cedinho, em pleno Dia das Mães, descolar algum sapato pra engraxar lá na saída da estação, o trem que vinha de São Paulo deixaria alguns passageiros e seguiria sentido Presidente Epitácio.
Eu bem que tentei:
E lá fui eu, bem cedinho, em pleno Dia das Mães, descolar algum sapato pra engraxar lá na saída da estação, o trem que vinha de São Paulo deixaria alguns passageiros e seguiria sentido Presidente Epitácio.
Eu bem que tentei:
- Quer engraxar, tio?
- Não, estou com pressa e vai chover!
- O senhor quer engraxar?
- Não, quero ir pra casa descansar!
Tentei mais dois ou três, nada... Um fez que não ouviu, os outros simplesmente me ignoraram.
Não deu... Nem um mísero vidrinho de esmalte “Colorama” pude comprar pra minha mãe.
Coloquei a caixa nas costas e segui para casa, o Bar Marabá estava apinhado de gente, aquele cheiro de frituras apertou minha fome... O Bazar do Pedrinho aberto em pleno domingo, logicamente para atender algum filho que tenha esquecido de comprar o presente da mãe!
Me apressei, já estava chuviscaninho... E no balanço dos meus passos, ora andando ora correndo, minhas tralhas barulhavam dentro da caixa de engraxar, uma espécie de rítmo do fracasso.
Quando descia a Dom José Marelo a chuva apertou, aquela chuva de maio, anunciadora de dias frios.
Dona Odila estava na área de sua casa, ao me ver tomando a chuva me chamou:
Não deu... Nem um mísero vidrinho de esmalte “Colorama” pude comprar pra minha mãe.
Coloquei a caixa nas costas e segui para casa, o Bar Marabá estava apinhado de gente, aquele cheiro de frituras apertou minha fome... O Bazar do Pedrinho aberto em pleno domingo, logicamente para atender algum filho que tenha esquecido de comprar o presente da mãe!
Me apressei, já estava chuviscaninho... E no balanço dos meus passos, ora andando ora correndo, minhas tralhas barulhavam dentro da caixa de engraxar, uma espécie de rítmo do fracasso.
Quando descia a Dom José Marelo a chuva apertou, aquela chuva de maio, anunciadora de dias frios.
Dona Odila estava na área de sua casa, ao me ver tomando a chuva me chamou:
- Vem João, esconde aqui... espera a chuva passar... E continuou:
- Hoje não é dia de trabalhar... É dia de ficar com sua mãe!
- Sim, fui tentar ganhar um dinheiro pra dar um esmalte de presente pra ela.
Ela foi pra dentro, enquanto no seu rádio alguém cantava: "Mamãe, mamãe, mamãe eu te lembro o chinelo na mão..."
Retornou com uma toalha e secou minha cabeça, voltou pra dentro e me trouxe um pirulito guarda-chuvinha de açúcar queimado.
Meu Deus... Acho que aquele foi o doce mais gostoso que deliciei em toda minha vida!
A chuva acalmou, ela pegou uma tesoura e cortou um botão de rosa vermelha, protegeu com papel celofane dizendo:
- Leva de presente pra sua mãe, ela merece o filho que tem!
Ainda hoje, tanto tempo depois, lembro com carinho daquele momento, e da Dona Odila, doce e generosa. Deve estar no céu fazendo companhia para minha mãe!
Retornou com uma toalha e secou minha cabeça, voltou pra dentro e me trouxe um pirulito guarda-chuvinha de açúcar queimado.
Meu Deus... Acho que aquele foi o doce mais gostoso que deliciei em toda minha vida!
A chuva acalmou, ela pegou uma tesoura e cortou um botão de rosa vermelha, protegeu com papel celofane dizendo:
- Leva de presente pra sua mãe, ela merece o filho que tem!
Ainda hoje, tanto tempo depois, lembro com carinho daquele momento, e da Dona Odila, doce e generosa. Deve estar no céu fazendo companhia para minha mãe!