João Neto: O Homem da Capa Preta

Compartilhe:

Era uma manhã friorenta de junho, “chuviscaninho” e vento que soprava vindo de Canitar... Daqueles dias feios, difíceis de sair de casa, dia desaconselhável para qualquer atividade.

Um homem vestindo chapéu, uma capa preta de lã, tão surrada quanto encardida, montado num cavalo escuro, bateu palmas lá em casa, coisa de nove horas da manhã.

Eu atendi, o homem, falou com a voz firme, quase intimidadora:

- Chama seu pai, preciso falar com ele!

Corri lá na “despensinha”, no fundo de casa... Meu pai estava amolando um facão:

- Papai, tem um homem a cavalo, mal encarado querendo falar com o senhor!

Meu pai ordenou:

- Entrem (o Arnaldo e o Ulisses foram junto comigo) em casa, eu vou lá atender!

Meu pai saiu com a lima e o facão na mão e foi atender o sujeito.

Nós corremos pra sala e, pela fresta da janela de pau, ficamos espiando a conversa dos dois.

O homem reclamava que o serviço e carpintaria que meu pai fez para ele não havia ficado bom... Meu pai retrucou, alegando que a madeira que o homem comprou não era peroba e estava verde:

- Eu te avisei!

Nisso a conversa foi aumentando o volume, virando discussão, o sujeito gritava e meu pai não baixava a crista, meu pai era do tipo "baixinho invocado".

Minha mãe ordenou:

- Saiam da janela e fiquem lá no fundo!

Eu, o Arnaldo e o Ulisses fomos direto pegar nossos estilingues no gavetão... Enchemos os bolsos de pedra e combinamos:

- Se a coisa piorar a gente "come" esse lazarento na pelotada!

E ficamos preparados atrás da casa, sem eles nos verem.

Minha mãe não saiu, ficou na cozinha, rezando de frente para o fogão de lenha!

A discussão virou um bate-boca assustador: o homem chamando meu pai de velhaco, e meu pai gritando e ofendendo o sujeito:

- Desce desse cavalo se você for homem, honra a barba que você tem cara!

Fomos até a cozinha para ver como mamãe estava... Naquele exato instante escutamos o estalo de dois tiros!

Com o barulho dos tiros acordei assustado!!

Assustado, coração disparado e tremendo feito vara verde!

Esse sonho realístico, parece ter sido um sinal para que eu rezasse por meu pai que jamais discutiu ou ofendeu alguém... Fui até o Santuário e acendi uma vela pra ele!

Confira outra história – clique aqui