João Neto: O trem da vida

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É sério... De repente abro os olhos e me percebo embarcado no vagão da terceira idade.

Cara, ainda ontem embarquei no trem da vida, sim, ainda ontem eu estava no vagão da infância, conhecendo o mundo e, apesar das dificuldades, cheio de sonhos e louco pra vencer meus desafios.

Juro, eu não vi o tempo passar, nem dei tanta atenção ao vagão da adolescência, ao vagão da juventude, muito menos ao vagão dos homens sérios, pais de famílias e trabalhadores.

Foto: Arquivo pessoal/cliques de Reginaldo Pereira Góis

Agora estou aqui, no antepenúltimo vagão, recusando veementemente essa condição.

Quero voltar lá no começo, voltar a ser um menino livre, correr contra o vento novamente, nadar no rio, o mesmo rio que refletia estrelas em noites de lua.

Quero voltar ao vagão da juventude, por onde passei muito rápido, quero voltar a correr atrás de bola nos campos dos meus anos dourados, quero vestir minha camisa branca - para desfilar nos clubes com luz negra, quero dançar com as meninas que nem os nomes perguntei.

Quero voltar ao vagão das responsabilidades laborais, dos trabalhos que executei: os portões que soldei, os lotes de cheques que enviei para a compensação... Nem sequer me lembro quando subi pela última vez, num poste de luz,  quando iluminei minha cidade.

Meus filhos nasceram e cresceram, penso que não os curti na totalidade de seus necessários carinhos.

A voz da minha consciência grita e me avisa:

- Perdeu playboy de cabelos brancos, sua chance já passou, não tem volta, seu trem andou... Você sequer prestou atenção nas pessoas que entraram e saíram dos vagões da sua vida, as que subiram ou desceram nas estações da sua caminhada.

O que lhe resta, agora, é curtir seus netos... Ame-os exageradamente, abrace-os e leve-os para passear ou brincar no parquinho, leve-os ao circo e ao zoológico, se não o fizer, você perderá mais este vagão e levará mais esta derrota para sua imensa coleção de fracassos, e o mais importante: acredite em Deus, ainda dá tempo!

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