João Neto: Outros dias frios

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Não tinha essa de dia frio, minha mãe acordava todos os dias, rigorosamente, às seis e meia, com a mesma frase:

- Vamos levantar, temos rosas pra colher!

Minhas irmãs estudavam à tarde, nós estudávamos de manhã. 

Morávamos numa das últimas casas da Barão do Rio Branco... Saíamos praticamente em caravana, todos os moleques da vizinhança quase ao mesmo tempo: Eu, Edson Mussula, Nenê e Nenzico, Rá, Ivan, Ariovaldo, Tuchê, Tuca e Nenezão.

Subíamos a Barão, que ainda era uma rua de terra.

Felizes, feito folhas ao vento, chutando as pedras da rua com nosso Conga surrado, brincando com o vapor de nossa respiração que mais parecia fumaça de chaminé. 

Alguns estudavam no "Sesi 144", meu irmão Arnaldo - por exemplo, o restante da molecada seguia até o Virgínia (Grupinho)... Coisa de duzentos metros uma escola da outra, nada mais.

Prédio do antigo SESI (Foto: Google)

Escola Vírginia Ramalho (Foto: Google)

Chegávamos no Grupinho e já alinhávamos pra cantar o Hino Nacional, mal esperando o momento em que o servente, Senhor Joaquim, tilintasse o sino para a hora do recreio... A sopa de macarrão parafuso com batatinhas era inesquecível, o leite com achocolatado também, sem contar que, nesses dias frios, sempre rolava uma canjica com amendoim. 

As professoras eram tão rígidas quanto protetoras, chamavam a atenção na hora dos estudos, porém eram pacientes e eficientes, acredito que foram verdadeiras fadas na nossa formação. 

Era tudo muito certinho e disciplinado, o que não impedia que a gente repetisse mais um prato de sopa...  As tias da cozinha eram, com certeza, as pessoas mais amadas da escola.

Hoje isso tudo me faz falta!

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Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos. 

Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.

João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.