João Neto; ‘Quando o Sol Nascer’

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Nos dias de inverno evidente que eu também tinha preguiça de sair da cama... Cinco e meia da manhã eu já estava percorrendo toda a Barra Funda de Ourinhos, entregando leite, de porta em porta.

Os fregueses, a maioria, já estava de pé.

Era penoso, mas achava importante ser parte fundamental daquele sistema delivery!

A parte boa era o cafezinho quentinho, coado na hora, que as freguesas deixavam do lado da leiteira, me esperando.

Os aparelhos radiofônicos já estavam sintonizados na Rádio Clube (820kz), invariavelmente, nos programas sertanejos que ditavam a cadência. 

Quando estava terminando, o sol apontava no horizonte e, eu, solitário, voltava pra casa cantarolando a canção que o rádio insistia em repetir:

"Cheiro de relva trás do campo a brisa mansa

Que nos faz sentir criança

A embalar milhões de ninhos

A relva esconde as florzinhas orvalhadas

Quase sempre abandonadas

Nas encostas dos caminhos" (confira a música mais abaixo)

Dali a pouco eu já estava a caminho do Grupinho, com a certeza de que, um dia, o sol nasceria pra mim também!

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Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos. 

Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.

João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.