João Neto: Quem Chegou?

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Não sei a mãe de vocês, mas minha mãe, Dona Conceição, não dormia enquanto todos os filhos não retornassem para casa.

Ela esperava um por um, tanto os que estudavam no "noturno" quanto os que simplesmente tivessem ido ao cinema ou outro lugar qualquer.

Cada vez que ela ouvia o barulho da porta se abrindo era a mesma pergunta:

- Quem chegou?

Ela repetia esta pergunta pelo menos cinco vezes, todas as noites, afinal eu (João), o Arnaldo, o Ulisses, o Alair e o Paulo éramos os remanescentes dos dezesseis filhos ainda morando com ela, os demais já estavam pelo mundão, lutando com a vida.

As meninas da casa não constam na lista, todas se recolhiam antes das dez.

Ah, mesmo do seu quarto, ela sabia quem havia chegado, só pelo jeito de abrir a porta, a pergunta "quem chegou?" era só pra ter a certeza de que todos haviam chegado bem.

A gente entendia sua preocupação, ela tinha medo de passar pela tragédia pela qual passou sua irmã e nossa tia Luzia: Nosso primo Elizeu saiu em viagem com seu caminhão e nunca mais voltou, nenhuma notícia - nada - nem dele nem do caminhão. Caseiro e amoroso Elizeu era bem resolvido, não tinha inimigos, ficou a suspeita de que foi vítima de latrocínio.

Foto: Reprodução

A família, desesperada, buscou por anos alguma notícia ou informação, sem contar os questionamentos aos órgãos policiais, jamais obtiveram respostas, uma ferida que jamais cicatrizou, uma dor eterna.

Este drama familiar justifica plenamente a preocupação de minha mãe e, sem sombra de dúvidas, nos fez filhos mais presentes.

Anos atrás, encontrei uma poesia em forma de oração, que ilustra quase que totalmente, tanto a preocupação de minha mãe, quanto o drama da Tia Luzia: a "Oração da Maçaneta" com o saudoso comunicador e poeta Gióia Junior.

Penso que todo filho deveria ouvir essa oração!

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