João Neto: Quem quer lamber a colher?

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Domingo é Dia das Mães, inevitável não lembrar que minha mãe foi a mulher que mais me amou nessa vida e, entre outras virtudes, era uma cozinheira de mão cheia... Não uma cozinheira de pratos sofisticados, mas, uma cozinheira de pratos criativos.

Nosso apetite não permitia que mamãe arriscasse pratos demorados - aqueles que no final de cada passo vem a observação: reserve! 

Nossos recursos não permitiam pratos afrancesados - aqueles que se faz biquinho pra ler os ingredientes.

Mamãe, com uma simples abobrinha - cambuquira - cebolinha de cheiro e ovo, criava verdadeiros banquetes.

Agorinha, me veio à mente, e ao paladar, o bolo de banana que minha mãe fazia... Era de uma delícia só... Parecia derreter na boca, tinha um quê de divindade, tinha gosto de nuvem colorida.

Retrato da mãe de João Neto (Arquivo Pessoal)

Ficávamos nós, caçulas, assistindo todo o ritual de criação do bolo, desde o untar da forma, do corte simétrico das bananas, da calda do açúcar queimado e da massa que ela despejava sobre tudo, até o levar ao forno.

Minha mãe era, acima de tudo, conhecedora das nossas vontades... Sempre deixava umas cinco colheres mergulhadas na massa e, sabendo de nossa reação, perguntava provocativa:

- Quem quer lamber a colher?

Levantávamos a mão, todos, simultaneamente, e cada um recebia sua colher generosamente lambuzada de massa... Naquele instante sentíamos a doçura do açúcar, sentíamos a doçura da vida, sentíamos a doçura de mamãe!

Hoje, depois de bater a massa do bolo, e me vendo observando com o olhar comprido, minha esposa gritou:

- Quem quer lamber a colher?

E trouxe o talher lambuzado de massa, sorrindo! Apesar da saudade, apesar da ausência de mamãe - naquele instante, percebi que a vida continua doce, continua com gosto de céu!

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