João Neto: Reencontros

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Não faz muito tempo, e ainda há quem os tenha, nossas fotografias antigas eram guardadas em álbuns plastificados, ou, dentro de caixas de sapato... Hoje nossas fotografias estão na palma da mão, dentro o celular.

Ainda há pouco, procurando uma imagem de dez anos atrás no celular, sem querer encontrei imagens do meu amigo Doum Miranda, justamente no dia que nos reencontramos, em agosto de 2013.

Morávamos de parede meia, na Vila Perino, final da Barão do Rio Branco, no tempo em que a rua nem asfalto tinha.

Talvez meu maior amigo da pré-adolescência... Doum era um bom sujeito, meu parceiro de aventuras inimagináveis: nadar no Rio Pardo, caçar de estilingue na Furnas, jogar bola no seminário, enfim, compartilhávamos nossas atividades juvenis, inclusive a mais indecorosa de todas, subir no abacateiro para sondar a vizinha tomar banho (sem mimimi, coisa de moleque!).

Estudávamos juntos, saíamos juntos para as matinês onde, além de rir com o Mazzaropi, obviamente íamos azarar os brotos (putz... broto é antigo, hein!)... O cara, além de parceiro fazia sucesso com as "minas".

Nossa família mudou-se para a Barra Funda, Doum foi embora pra São Paulo e acabamos por perder o contato.

Passados 40 anos nunca mais nos falamos... Nos encontramos por acaso, aqui em Santo Antônio da Platina (PR), eu com o veículo operacional da empresa, estava concluindo uma ligação de energia num recinto onde haveria uma exposição de carros antigos.

Após a energização do sistema elétrico, com o fechamento do transformador, um cidadão gritou lá do chão:

- Muito obrigado, se quiser vêm vocês dois comer uma carne com a gente!

Ainda suspenso no hidroelevador olhei pra baixo e vi meu amigo Doum Miranda, a mesma simpatia de sempre.

- Não como carne com qualquer um! Brinquei!

Rapaz... Na hora que ele me reconheceu pensa na alegria do caboclo!

É lógico que ficamos conversando por mais de uma hora, lembrando das nossas presepadas e do sonho de ficarmos ricos... Ele me confidenciou que além de representante de uma multinacional também era colecionador de carros antigos.... Um dos maiores do Brasil, fui saber tempos depois!

Nem bem retornamos nossa amizade, no mesmo ano, antevéspera de Natal, Doum foi morar no andar de cima!

Foi uma honra ter sido amigo do filho da Dona Alcina!

Um dia nos reencontraremos, meu amigo, e teremos a eternidade para conversar!

João Neto e o amigo Doum (Foto: Arquivo Pessoal)

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Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos. 

Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.

João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.