João Neto: Sexta-feira Maior

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Penso que ninguém respeitava a Sexta-feira Santa como minha mãe... Pra começar ela chamava o dia mais doloroso para nós, católicos, como Sexta-Feira Maior.

Não deixava a gente comer carne em nenhum dia da Semana Santa, penso até que ela usava a Semana Santa como desculpa, já que era raro o dia em que comíamos carne em qualquer semana do ano.

Voltando à fé da minha mãe, ela participava com fervor de toda programação da semana sagrada: uma semana antes - o Domingo de Ramos e o galho de palmeira na porta, as novenas, as orações da manhã, a procissão, a via sacra, enfim, todos os ritos do flagelo de Cristo.

A verdade é que ela foi um exemplo de dedicação e fé. Aliás ela nos convencia pelo exemplo, era contundente com as coisas da Igreja.

Dizia que Sexta-feira Santa era dia de: silêncio, jejum e oração.

Não podíamos ligar o rádio, sempre dizia:

- Hoje não é dia de ouvir música! A não ser que fosse música religiosa ou a música "Cristo, quem é você?" do Odair José.

E assim ela construiu uma família devota e temente a Deus!

Passada a Sexta-feira Santa, depois o Sábado de Aleluia e chegávamos no "Domingo de Páscoa": a ressurreição, a alegria de ter Jesus de volta.

Apesar da alegria da Páscoa, minha mãe tinha que fazer outros malabarismos para nos convencer que a Domingo nada tinha a ver com coelhos e ovos de Páscoa, mesmo assim ela fazia um delicioso bolo de chocolate!

A argumentação era que ovo de chocolate sujava o sangue. Além disso repetia uma reflexão poética que, em outro tempo, leu na revista "O Cruzeiro":

"Não foi chocolate, foi sangue!

Não foi ovo, foi cruz!

Não foi doce, foi doloroso!

Não foi coelho, foi Jesus."

Ovo de cholate (Foto: Reprodução)

Chegamos até aqui, sempre acreditando na minha mãe e suas convicções... Não perdemos nada, nos tornamos pessoas melhores!

“Bença” mãe, onde estiveres: Abençoada Sexta-feira Santa e Feliz Páscoa!

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