João Neto: Sobre ontem à noite

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Certa vez, referente ao meu modo saudosista de escrever, me rotularam "o piloto da caravela da saudade"... Aceitei, afinal, quem mandou eu ter me especializado em revirar "baús do passado".
Então... Ontem à noite, no Teatro Municipal Miguel Cury, fui assistir ao show cover do "Abba" e "Bee Gees" ou "Bidiz" para nós caipiras.

Porém, não vou falar do show, propriamente dito, aliás, saudosista que sou, fiquei absolutamente encantado com as apresentações, o que pode não ser a avaliação mais correta.

Vou falar do Teatro, ou melhor, vou falar do Cine Ourinhos, onde adentrei, pela última vez, em 1976, para assistir o filme "O Destino de Poseidon", com Gene Hackman e Ernest Borgnine.

Confesso que, quando o porteiro validou nosso ticket (que no meu tempo era a chamada "entrada") parece que voltei aos meus dezesseis anos, reencontrei minha alma que ainda estava ali, pairando no ambiente... Pronto, eu acabara de entrar na cápsula do tempo.

O ambiente tinha o mesmo cheiro de 48 anos atrás, tiraram as cadeiras de madeira rangentes e instalaram confortáveis poltronas almofadadas... No lugar do telão um super e equipado palco, de ampla visão, cheio de luzes estroboscópicas.

Como minha alma já havia deixado meu corpo, imaginei minha "turma" rodando no entorno das cadeiras, os meninos em sentido horário e as meninas em sentido contrário, a tal paquera explícita...  Esperávamos o lanterninha Fefeu apagar as luzes para o início da sessão: os trailers dos filmes da semana e o canal 100, ah... quanta memória!


João Neto e a esposa (Foto: Arquivo Pessoal)

Enquanto o show "rolava" eu estava perdido nos meus pensamentos, peito apertado, coração batendo falho... Eu lembrava das trocas de gibis, das balas de café, dos amigos que não estavam mais ali.

Voltei a mim quando a Banda cantava "Fernando": "...We were young and full of life" - no nosso português: "Nós éramos jovens e cheios de vida!".

Quanta emoção eu senti, quantas lembranças gostosas, de um tempo que parece que foi ontem... Ainda bem que a música e o "escurinho do cinema" disfarçaram meu choro.

Ah, só vi gente de cabelo branco, talvez por isto eu não tenha reconhecido ninguém, exatamente o mesmo detalhe de não terem me reconhecido também.

Com tudo isto, e por tudo isto, posso dizer:

Ah, Cine Ourinhos, eu não sabia que te amava tanto!

Fachada do antigo Cine Ourinhos, hoje o Teatro Municipal Miguel Cury, no Centro de Ourinhos - Foto: Colorizada por Reginaldo Pereira Góis