Acordei naquela manhã fria mais preocupado que nos outros dias.... Era aniversário da nossa professora, Dona Ivanilde.
Dinheiro para comprar uma lembrança eu não tinha, nem para um simples laço de cabelo... Pensei em comprar uma maçã, também era caro... Aí me ocorreu a ideia de levar uma flor.
No jardim de casa as rosas estavam feias, pensei que no caminho para o Grupinho eu veria alguma flor bonita e pediria para a dona da casa... Acho que, por causa do frio, todas as flores, de todos os jardins, estavam feias.
Desisti e segui para a escola...
Naquele tempo a Rua Barão do Rio Branco era de terra... Antes de chegar na escola, no terreno onde armava circo, vi na beira da rua alguns trevos grandes e bem verdinhos... Colhi um monte, fiz uma espécie de buquê, amarrei com linha de pipa e levei para a Dona Ivanilde.
Nem precisa dizer que toda classe debochou de mim, riram da lembrança sem graça que levei.
Fiquei com muita vergonha, vergonha dos trevos amarrados que levei para concorrer com os perfumes, flores, Leite de Rosas, Creme Nivea e outros mimos que as outras crianças levaram.
Acho que Dona Ivanilde quis livrar minha cara, ela pegou aquele monte de trevos e foi tirando suas pétalas, colocando dentro de uma caixinha de fósforos... Pediu silêncio e falou:
- Muito obrigado pelo carinho de todos vocês!
Emocionada, foi de carteira em carteira, aluno por aluno dizendo: "eu também te amo", colocando um coraçãozinho verde, dentro de cada caderno!
Na minha vez ela disse:
- Obrigado João, adorei a lembrança, pra você te dou três corações!
Todos ficaram felizes, cantamos parabéns e comemos o bolo que uma menina havia levado.
Hoje, tantos anos depois, colhi alguns trevos do lado de minha casa, arranquei suas pétalas que se transformaram em vários coraçõezinhos, fui lembrar de uma dama que, além de transmitir conhecimento, me ensinou o valor da gratidão!
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