Nos tempos de engraxate, como medida inclusiva e protetiva, a gente trabalhava em grupos, era um recurso de autodefesa, juntos a gente era mais forte, até compartilhávamos, às vezes, o mesmo freguês... Sim, cada um engraxava e lustrava um pé.
Alguns desavisados nos rotulavam "bando" de engraxates... Na verdade, fazíamos parte do inexistente e fictício "GEO" - Grupo dos Engraxates Organizados de Ourinhos.
Numa das primeiras FAPI, ainda no Monstrinho, fomos todos visitar a exposição... Que grande furada a nossa ida pra lá! Ninguém queria engraxar no meio daquela muvuca... Sem contar o cheiro avassalador de comida e doces sendo confeitados pelos barraqueiros, e nós sem nenhum "puto" no bolso.
Eu nem quis ir no parque de diversões, certamente iria ficar com vontade de subir na roda gigante ou escorregar no tobogã.
Decidi voltar pra casa, eu e mais meia dúzia do nosso grupo... Quando nos interessamos pelo trapezista andando num cabo de aço, lá no altão!
Descobri tempos depois que era um equilibrista, de nome Peter Relingher... O cara estava fazendo uma turnê por todo estado de São Paulo.
Aparecido Leite, da Rádio Clube de Ourinhos, entrevistou o "artista" com ajuda de um intérprete.
O maluco se propunha atravessar, numa corda bamba, sustentada por duas torres de 80 metros de altura a distância de quase 50 metros, se equilibrando única e tão somente com uma barra de cano galvanizado nas mãos.
Assistimos toda apresentação do cara, o maior show ao ar livre que já vi... Adrenalina pura, um espetáculo, sem contar que era a única atração gratuita daquela FAPI.
Sem saber, naquele maio de 68, assisti ao vivo a apresentação do maior equilibrista da época em todo o mundo.
Entrou para a minha galeria de grandes eventos!
Direto do túnel do tempo.
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Já outro equilibrista, Phelippe Petit, no dia 7 de agosto de 1974, realizou a travessia de 42 metros entre os dois prédios do World Trade Center, coração da sempre movimentada Manhattan, em Nova York, nos EUA, a 400 metros de altura. O acontecimento entrou para a história.
Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos.
Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.
João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.