Na parte alta da Vila Perino existia uma área enorme, com vários campos de saibro demarcados estranhamente, altas arquibancadas de madeira e, também de madeira, algumas cabines "vip's".
Alguns chamavam de "kaikan", outros diziam que era a Associação Esportiva e Cultural de Ourinhos (AECO). Lá existia, talvez, a maior escolinha de beisebol do Brasil... Aliás a AECO foi bicampeã mundial de beisebol no início dos anos 70. Em tempos de competição aquilo ficava apinhado de gente dos olhos puxados.
Imagem da conquista do título brasileiro de baseball em 1974 (Foto: Arquivo/ Fotos Museu Virtual Ourinhos)
Ah, tempos depois descobri que "kaikan" é o prédio ou local onde os japoneses se reuniam para eventos e confraternização.
No kaikan de Ourinhos nós, pobres de "marré deci", não tínhamos acesso, aliás, era exclusivo para uso da comunidade nipônica ourinhense, perfeitamente justo.
Portanto...
O mais próximo que chegamos do esporte praticado ali foi o "irado" jogo de "bets", que jogávamos nas ruas de terra da Vila Perino, duas latas de óleo vazias como base, e dois pedaços de pau ‘pra’ tentar mandar a bolinha para as cucuias!
Popular "bets" na rua (Foto: Reprodução)
Porém, o Campo do Japonês não era tão restrito assim, na rua dos fundos (Rua Espírito Santo) havia uma passagem no muro que permitia nosso acesso, sem consentimento evidentemente, pra gente jogar nosso futebol.
Quando havia competições no Campo do Japonês, ficávamos à espreita, esperando que alguma bola de beisebol viesse por cima do muro, pra gente catar e sair correndo e jogar nosso bets com bola de verdade.
Aí vieram as máquinas, os trabalhadores da construção e destruíram o Campo do Japonês, hoje a atual e necessária Rodoviária de Ourinhos, o terminal de ônibus intermunicipais e interestaduais.
Campo na década de 1940 (Foto: Família Oda)
Fica o registro de um tempo inesquecível, e especial agradecimento à comunidade japonesa por levar o nome de Ourinhos mundo afora, e pelos legados orientais deixados para o desenvolvimento de nossa cidade!
- Arigatô!
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Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos.
Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.
João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.