Dentro do "combo" das atividades para aquele dia havia uma suspensão de fornecimento (corte de luz)... A ordem de serviço indicava endereço na área rural, lugar longe toda vida, seguimos pra lá.
Uma quinta-feira chuvosa, estrada enlameada e escorregadia, situação verdadeiramente hostil, retrato das chuvas de fim de verão, as tais "águas de março", diria o poeta.
Chegamos no sítio percebi que o sol, do mesmo verão chuvoso, apareceu... Quem nos recebeu foi o dono da casa, homem simples e não tão velho, mas de aparência judiada.
A mulher ficou nos observando encostada no batente da porta, um menino sem roupa, todo sujinho, ficou nos rodeando, enquanto eu entregava o aviso de corte ao caboclo:
- Viemos cortar a luz, está sem pagamento há seis meses! Ponderei.
- Não tem como deixar ligada? Perguntou o homem.
- Infelizmente temos que cortar, o senhor não consegue ir até a cidade pagar?
- Não posso prometer, estou sem dinheiro, esse mês choveu muito, não trabalho faz quarenta dias, talvez eu consiga pagar o mês que vem.
Se tem uma coisa que ainda não perdi foi o bom senso... Eu sabia que se efetuasse o corte, aquela família, além da luz, ficaria sem água; a bomba d'água não funciona sem energia.
Aquela situação começou a me entristecer, aliás, meu coração apertou, minha alma latejava.
Enquanto eu conversava com o morador, o menino encostou do meu lado e abraçou minha perna, segurando com força. Talvez buscando proteção.
Naquele instante desmoronei moralmente, fiquei arrasado.
Querendo sair dali urgentemente, eu disse para o homem pagar as contas quando pudesse.
Antes de me dirigir até a camionete o caboclo me agradeceu, o menino soltou minha perna, segurou minha mão e me acompanhou.
Imagem ilustrativa produzida por IA (Inteligência Artificial)
Até ali consegui disfarçar minhas lágrimas, mas bastou dar partida no carro desandei chorar, enquanto isso, pelo retrovisor, percebi o menino me acenando em tchauzinhos!
A chuva que havia dado uma trégua voltou a cair, ainda bem, os pingos da chuva disfarçaram meu pranto!
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