Não, não havia na nossa casa algo mais democrático que o forno de barro.
Em volta do forno a família se reunia para esperar o assado de porco e galinhas, o pão caseiro, os bolos, as bolachinhas de nata, enfim, tudo o que de mais delicioso as mãos da minha mãe podiam fazer.
Minha função era manter o forno sempre limpo, além disso, eu era o guardião do forno, não podia deixar que as galinhas aninhassem dentro do forno.
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Pra dizer a verdade o forno de barro era o coração da nossa casa.
Até o dia em que meu pai comprou um fogão a gás.
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“Putz”... Minha mãe podia fazer tudo sem se expor a quentura do forno e sem o inconveniente dos dias chuvosos... "Nosso" forno foi ficando abandonado, até o dia em que se tornou o ninho das galinhas, um final previsível!
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Após isso, nossa família foi se dispersando... Fim das reuniões familiares, fim da união.
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A viagem definitiva de minha mãe e meu pai foi o ponto final de tempos felizes.
Jamais abandonem o forno de barro que existe dentro de vocês!
Hoje o forno de minha casa é apenas uma fotografia envelhecida!
Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos.
Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.
João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.