Por João Neto: Cobertor Xadrez

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Mesmo no inverno, pra nós, o melhor dia era o domingo... Não tinha escola e a gente podia marcar jogo, no campo do seminário, contra a molecada da rua de cima. 

Se meu pai pedisse pra que eu fosse na banca da praça comprar o "Estadão", era um bom sinal: certeza que iria ter macarrão e carne...  Quando ele não comprava o jornal podia saber que a mistura seria ovo com cambuquira. 

O dinheiro, ou a falta dele, ditava nosso cardápio!

Depois do almoço de domingo minha mãe gostava mesmo era de assistir o Programa do Silvio Santos, pegava um cobertorzinho xadrez e se aninhava no sofá de corvim. Eu era seu assessor para regular a antena externa, bastava aumentar o chuvisco na telefunken, era um flagelo, do sofá ela gritava:

- João, vira a antena pra mim! 

O tal Silvio Santos começava com: "agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar..." e ia até de noitinha com o "Boa noite, Cinderela", um programa em que a cinderela era escolhida pelo grau de pobreza, por isso, por tempos, acreditei que as chances das minhas irmãs seriam grandes, porém, nunca se inscreveram.

Ficaram na ilusão, somente!

Antes de dormir, minha mãe, um por um, dava o delicioso banho de canequinha!

Quando deitávamos ela fazia a gente rezar a Oração do Pai Nosso. 

Mas o tempo passou, meus amigos....

E por incrível que possa parecer, isto tudo, hoje me faz falta, principalmente da santa que se cobria com o cobertor xadrez.

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Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos. 

Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.

João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.