Por João Neto: Diamante Negro

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- Na volta a gente compra! 

Era a resposta de minha mãe quando eu pedia o "Diamante Negro" exposto nas vitrines daqueles bares da minha infância: Bar do Seu Humberto, Empório do Toloto, Padaria Itoda, Bar do Cadiô, etc..

Chocolate "Diamante Negro" foi inspirado no jogador de futebol Leônidas da Silva, craque da década de 30 até os anos 50 (Foto: Ilustrativa)

Vale lembrar que minha mãe voltava por outro caminho e eu fazia de conta que tinha esquecido do tal chocolate.

Puxa, como minha mãe era má!

Outra desculpa esfarrapada dela:

"Chocolate suja o sangue!"

Anos mais tarde é que pude entender suas mentiras e o malabarismo que ela fazia com tão poucos recursos... Ela não era má, era pura!

Se "rolasse" alguma guloseima de bar o máximo possível, para o bolso da minha mãe, era o "doce de abóbora de coração".

O que ela podia fazer? Nada, absolutamente nada!

Agora estou aqui na Freepan, lembrando de minha mãe, mirando a vitrine abarrotada de doces e chocolates variados, sem nenhuma restrição de recursos.

 A balconista me pergunta:

- Vai levar algum chocolate?

- Não, não - me pega um doce de abóbora de coração, chocolate suja o sangue!

Doce de abóbora coração (Foto: Ilustrativa)

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Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos. 

Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.

João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.