Se havia um lugar que nós, jovens ourinhenses, gostávamos de passar os finais de semana era Salto Grande (SP). Principalmente no verão a gente estava lá, marcando presença.
A prainha de Salto Grande era super democrática, lá todas as tribos se misturavam: sambistas, churrasqueiros, esportistas, pescadores, estudantes, etc...
Os ricos ficavam desfilando com seus carrões, suas lanchas e suas roupas de praia de grife. Nós, pobres de “marré deci”, íamos tentar alguma aventura amorosa, obviamente.
Aquele lugar compreendia uma paisagem fantástica, a natureza na sua melhor versão, mas nossos olhos queriam mesmo, era ver as meninas com roupas de banho, tomando um "bronze".
Nosso dinheiro dava, no máximo, para uma coca e um pão com mortadela.
A aventura começava cedo, na antiga rodoviária de Ourinhos... O ônibus da Pássaro Azul saía de hora em hora, e ia abarrotado de gente, enfim, todos os bancos ocupados e todo corredor do coletivo com gente em pé, espremidos feito lata de sardinha.
Antiga rodoviária de Ourinhos (Imagem de Francisco de Almeida Lopes)
Quem sofria mesmo era o cobrador, pensa num tormento no seu dia de trabalho, mas, tirando as eventuais brigas, tudo acabava bem.
O duro é que tinha uns sem noção que levavam boia de câmara de ar de caminhão, para brincar na água.
Lá a gente passava o tal "dia feliz", era nossa Disneylândia possível.
A paquera corria solta, jogávamos vôlei e futebol na areia artificial e arriscávamos uns mergulhos.
E assim passávamos o sábado e o domingo, na esperança de arrumar uma "mina" pra voltar aos amassos dentro do ônibus de volta, o último partia às nove da noite.
Acontecia de, às vezes, perdermos a hora do último ônibus, porém, havia um trem, vindo de Presidente Epitácio, que passava por lá à meia noite, era nossa salvação!
Em fevereiro, outro programa, fantástico e cabuloso, era o Carnaval no Clube Náutico, se tiver coragem eu conto oportunamente.
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Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos.
Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.
João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.