No domingo antes da Páscoa minha mãe acordava todos nós, bem cedinho... Pedia pra gente colocar nossa melhor roupa, mesmo sabendo que nossa melhor roupa não era lá essas coisas.
Era Domingo de Ramos, dia de levar um ramo do coqueiro para o Padre Bernardino abençoar... E todos nós seguíamos cantando em procissão pela Vila Perino, até chegar à Capela de Nossa Senhora de Guadalupe.
Com sinceridade eu seguia a procissão com intuito de ficar vendo as meninas de vestidinho de chita e laços nos cabelos.
Não vou falar da parte religiosa do Domingo de Ramos, penso que não precisa.
Vou falar que nesse dia minha mãe comprava macarrão espaguete n° 5, aqueles bem grossos e do furão grande... Fazia um molho de tomate com bastante alho, cebola, salsinha e cebolinha de cheiro, ficava bem suculento e no fim minha mãe jogava bastante queijo ralado sobre tudo.
Ela fazia a melhor macarronada do mundo.
Pra acompanhar ela fazia pão no forno de barro e pra beber dava uma garrafa de caçulinha “Caiçara” pra cada um, a gente furava a tampinha com um prego e ficava mamando naquela maravilha.
A vida seguia mansa e feliz...
Hoje a internet me lembra que o Domingo de Ramos será no final de semana... Por conta do coronavirus estivemos reclusos por mais de dois anos... Sem missa, sem folha de coqueiro, sem macarronada e sem a entrada triunfal de Jesus.
Mas o que dói mesmo, é a falta de minha mãe!
É minha gente, um dia eu também fui menino, pobre, mas dono de um Domingo Ramos somente meu!
Pena que o mundo mudou!
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Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos.
Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.
João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.