No final de março de 1974 me apresentei para meu primeiro emprego “registrado”, na Selaria São José, na Rua dos Expedicionários, ao lado da Retífica do Koga.
Sr. Newton me fez um monte de perguntas e pediu para que eu levasse minha carteira de trabalho no “guarda-livros”. Ele percebeu que eu não entendi o que era “guarda-livros” e explicou que era um escritório de contabilidade, precisamente o Escritório Mercantil, na Rua Paraná, ao lado da Revenda de Automóveis Racanello.
- “Deixe sua carteira lá e volte pra trabalhar na segunda-feira, dia 1 de abril”.
Fui até o Escritório Mercantil, na hora do almoço, quem me atendeu foi um jovem senhor de boa estatura:
- “Você vai trabalhar com o Zé Cuaeira?”
- “Vou trabalhar na Selaria São José!”
Ele riu e disse:
- “Ele mesmo... E fala para ele que você deixou seu documento com o Farid, vou repassar para o Marinho fazer seu registro”.
Agradeci... Com tremenda simpatia ele bateu a mão no meu ombro, sorrindo, me desejou boa sorte.
E os anos se passaram...
Estreitei amizade com a Josanete - Jô para os amigos... Ela aposentou-se no Escritório Mercantil, onde trabalhou por 45 anos... Falava dos patrões com desmesurado carinho, o Farid (aquele que recebeu minha carteira de trabalho) e do Dr. Nélio Porto, sócios por mais 60 anos.
O Escritório Mercantil se tornou “Novo Mercantil”, cresceu, modernizou-se... Seus contabilistas são verdadeiros gestores contábeis e empresariais, superou limites, são profissionais além da excelência.
Minha sobrinha, Elaine, hoje trabalha no Novo Mercantil, tal qual a Jô, fala maravilhas das patroas: Michele Armentano Tanios Mrad, Milene Armentano Tanios Mrad Ferrari, contabilistas, filhas de Farid Abdo Tanios Mrad e Dona Mara Mrad, exatamente 53 anos de casados, uma feliz e abençoada união.
Ressalta-se no Novo Mercantil a sociedade de Farid e Nélio, cunhados, sociedade de mais de 60 anos, que começou na garagem do Dr.Nélio.
Uma sociedade que deu certo por uso irrestrito da palavra “respeito”. Dizem que Dr. Nélio era a razão e Farid era o coração!
O Novo Mercantil, além de tudo, ainda foi grande formador de contabilistas práticos que hoje atuam em outras áreas e outras empresas.
O Guarda-Livros se tornou Contador Digital, O Novo Mercantil segue sua vocação para o gigantismo.
Em julho de 2020 o “Faridão” partiu... Farid Abdo Tanios Mrad foi chamado por Deus, acredito que não foi preencher vaga de contabilista no céu... Deus devia estar precisando de um anjo de carne e osso... Um anjo que, aqui no plano terreno, era chamado de: amigão, patrãozão, parceirão, paizão, maridão, tiozão e acima de tudo vozão! Sim, tudo no aumentativo!
O homem que um dia contratou um menino que estava sentado no banco da praça, e um dia me desejou boa sorte, foi o anjo protetor de muitos, amigos e parentes, até que chegou sua neta Heloísa, a Lolô... Percebendo que a menina necessitava de cuidados especiais encarnou o “Avô Anjo”, se derreteu, seu coração agora tinha uma dona definitiva!
Lá do céu deve estar protegendo todos que lhe são caros!
Sr. Farid e família (Foto: Arquivo Pessoal)
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Este texto é do escritor João Neto, um escritor do cotidiano, foi rotulado, pelo crítico Lau Pacheco, como "piloto da caravela da saudade", em virtude do resgate de momentos vividos na infância e adolescência em Ourinhos.
Após ter seu conto "Ainda Bem Que Você Veio" viralizado nas redes sociais, ficou conhecido em todo o Brasil. Publicou seu primeiro livro de contos e crônicas em 2019.
João Candido da Silva Neto nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) e veio para Ourinhos com 7 anos em 1967. Ele atuou na COPEL (Cia Paranaense de Energia) onde aposentou-se em 2019. Em 2012 se tornou escritor, tendo seus contos e crônicas publicados semanalmente na Folha de Londrina.
